Trabalho
CUIDADO PARA NÃO CAIR DA BICICLETA, CUIDADO PARA NÃO PERDER O GUARDA-CHUVA
Preparo físico e muita coragem para encarar o inverno. Descubra uma das profissões mais recentes em Londres
Por Val Oliveira
By tube, by bus, by taxi, by foot, by rickshaw. São muitas as opções de transporte para os turistas que se aventuram na movimentada noite londrina. Ok, o nome pode soar estranho, mas o meio de transporte de três rodas é nosso velho conhecido. E com certeza você já viu os carinhas com uma bike meio esquisita oferecendo rides ali por perto do Soho... agora veja como esse negócio funciona e se você está preparado para encarar o desafio e se aventurar pelas ruas de Londres.
Osrickshaws hoje
Quase 140 anos depois da invenção dos rickshaws, as bikes viraram atrações turísticas em Tóquio, Edinburgo, Hong Kong e, claro, na cidade onde tudo acontece: Londres. A atração invadiu a capital inglesa pelas mãos dos colombianos e logo virou um negócio lucrativo. E não é novidade a dominação dos colombianos no ramo.
Já os brasileiros são minoria por aqui. Existem aproximadamente 300 rickshaws circulando pela capital. Pegando carona no sucesso da atração, os riders (como são chamados os condutores) pedalam duro na gelada noite londrina de olho no faturamento e na sobrevivência.
Para quem está no banco de trás, o transporte é romântico e divertido. Já para os riders, hard work. O começo foi um pesadelo para o estudante gaúcho Thiago Coelho Palmo, 22 anos. "Nas primeiras duas semanas tomava Tylenol antes e depois do trabalho. Fiz apenas 3 pounds na primeira noite. Não falava inglês. Não conhecia muito bem a cidade. Minha resistência física estava limitada. Me apavorei. Achei que não era para mim. Pensei em desistir". Foi com muito esforço físico e um inglês básico que ele encarou o desafio. Há oito meses no ramo, diz que o cansaço é grande, mas acha que vale a pena. "A grana é boa, não tenho chefe e faço meu horário", declara. Thiago trabalha de segunda a quinta das 18h30 às 12h30 e embolsa em média £270. Já sextas e sábados, os dias de maior movimento, diz que dá para faturar £200 por noite.
Se o movimento é grande, pode crer que é sinal de exaustivas horas e horas pedalando. Geralmente nos finais de semana, trabalha-se das 18h00 às 3h00. Um bom comando de inglês, conhecimento dos principais pontos turísticos e aptidão física são requisitos básicos para começar nesse mercado. E bota esforço físico nisso. Em média, os riders trabalham 6 horas diárias transportando aproxidamente 200 kilos.
A bicicleta por si só ja e pesada e em geral os passageiros chegam em dupla. A boa forma agradece.
Como Funciona ?
A atividade ainda não é licenciada e está crescendo consideravelmente. Existem aproxidamente seis companias em Londres que alugam as bikes. Os valores variam de uma para outra. É necessário dar um depósito de garantia (que você recebe de volta ao largar o emprego) de £120 e o valor do aluguel semanal varia entre £ 70/90 (inverno) e £85/100 (verão). A empresa oferece um treinamento básico sobre como sobreviver no caótico trânsito londrino e confere se sua resistência fisica aguenta o tranco. O rider também pode optar pela compra da bike e se livrar do aluguel. Porém, o preço é bastante salgado. Uma rickshaw pode ser encontrada pelo preço médio de £3000, enquanto uma usada fica em média £1500. O valor da corrida, ou melhor, da pedalada, não é tabelada e fica a cargo do rider.
Uma pedalada de Convent Garden até Leicester Square sai por volta de £3 por pessoa, enquanto de Picadilly até Victoria Station não sai por menos de £10 por cabeça. Depende da distância e da negociação entre cliente e condutor. Os pontos para conquistar clientes podem ser escolhidos pelo rider, sendo Picadilly Circus o preferido na caça aos customers. Portas de baladas, teatros e ruas movimentadas são onde os riders podem ser facilmente encontrados.
Hard work
Alguns pontos como a flexibilidade de horário (afinal, o rider pode pegar a bike a qualquer hora do dia ou da noite), as libras a curto prazo e a ausência de gerente foram apontados por 10 em cada 10 entrevistados os principais benefícios desse ramo. Mas, para quem acha que a rotina é facil e divertida sobram pontos negativos. "É muito frio, as vezes precisamos pedalar por duas horas sem intervalo e as vezes os passageiros são bem pesados. É realmente trabalho pesado", é o que diz o inglês David Green, 39 anos, debutando na área. Na primeira semana de trabalho ele afirma que já esta pensando em desistir. O colombiano Alejandro Ruiz, 18 anos, concorda . "O frio é de matar, você precisa correr atrás dos clientes. As vezes, fico 3 horas aqui no gelo e não faço nenhuma corrida".
Kit de sobrevivencia
Luvas, boné, meias, calca térmica, botas e jaqueta impermeáveis são ítens básicos para o rider começar a jornada no gelado inverno londrino. Mapa A - Z, mapa dos teatros, kit para reparar os pneus, iluminação na bike e bomba para encher o pneu também fazem parte do kit de sobrevivência. Ah, e muito importante: "cuidado para não cair da bicicleta, cuidado para não perder o guarda-chuva" já diria o nosso bem brasileiro Jorge Ben Jor. Afinal, o clima londrino ....
Serviço: O negócio é bastante fechado e os rickshaws não estão muito interessados no surgimento da concorrência. O melhor caminho para conseguir entrar nesse mercado é através da indicação de outro rickshaw. A dica é ficar de olho nas placas das bikes que sempre trazem o contato da agência e perguntar por vagas.
Empresas que alugam bikes:
www.bugbugs.co.uk
londonrickshaws.co.uk
Loja especializada em vendas de rickshaw:
www.cyclesmaximus.com