Lazer
Caindo na Gargalhada
Desligar o celular, segurar a vaia (se for o caso) e se preparar para uma divertida noite. É o que manda a stand up comedy inglesa
Por Val Oliveira
Valoliveirajornalismo@yahoo.com.br
"E então, estão comemorando o que essa noite ?", pergunta o apresentador para a numerosa mesa em frente ao palco. "É uma festa de despedida. Ela está indo embora para a Espanha", aponta o charmoso rapaz para a amiga ao lado. "E está indo por quanto tempo ?. "Três semanas", grita a dona da festa. "What ?? fuc* você não está indo embora, está indo de férias". A platéia cai na gargalhada.
Ele conta algumas piadas e conversa com a platéia. De repente, um celular toca... "What ? Is that a mobile?" ele olha indignado para a mesa da festa de despedida. A garota atende. O amigo atrasado está perdido. O apresentador não perdoa. Pega o telefone. "Alô, quem é você ? Tom ? Então Tom está um pouco atrasado, não ? O show começou há 10 minutos. O quê? Não estou ouvindo bem, está um pouco barulhento aqui. Perdido ? Pega a direita, não, na verdade, a esquerda".
Ele pede um minuto. Diz para o público: "Ele esta na estação, que direção ele pega? direita? "Esquerda" grita o senhor lá no fundo. "Não, pega a direita e segue reto", sugere o inglês, do outro lado do salão. A platéia está confusa. "Tom, sorry não podemos ajudar muito. Estou meio ocupado agora". Ele desliga o celular e continua.
É apenas a abertura de mais um show de Stand up comedy num café londrino.
As origens
A onda começou por volta de 1975 na capital Inglesa e conquistou milhares de sorrisos. Atualmente são aproximadamente 65 cafés, pubs e clubs (na casa dos 6) que apresentam esse tipo de show em Londres. O nome não deixa dúvidas. O comediante, em pé no palco, diverte a platéia, que tem participação garantida em todos os espetáculos.
Os shows trazem todos os tipos de humor e seguem um formato parecido com o apresentado pelos brasileiros Tom Cavalcante, Agildo Ribeiro e Silvio Silvino. Eles contam piada (um pouco difícil de entender, se você não sabe o que faz os ingleses rirem), tiram sarro dos irlandeses, franceses, escocêses (e da nacionalidade que aparecer), fazem mágica e claro, contam divertidos casos.
E de onde vem a inspiração? "Conversando com amigos, desconhecidos e ouvindo os políticos. Eles nos dão preciosas pérolas. O segredo é encontrar coisas engraçadas para falar e usar o corpo para expressar isso", afirma o comediante irlandês Noel Faulkner, especialista em tirar sarro de políticos americanos.
A talentosa Australiana Kitty Flannigan, leva a dica ao pé da letra. "Hello people, alguém comeu minha maçã que estava na gaveta de baixo (com a etiqueta verde)? "Hey, eu não sei sobre a maçã, mas a pizza fui eu (estava sem nome). Tem torta de maçã na gaveta do meio (etiqueta pink)". Essa é a parte do show onde ela conta sobre as notas engraçadas deixadas na geladeira pelos seus flatmates, o que não teria a menor graça não fosse a desenvoltura corporal da comediante. "Na verdade, fui eu que comi a maçã, anyway", finaliza.
Remédio para a alma e para o bolso
Diversão para quem está assistindo, profissão e terapia para quem está no palco. "Eu comecei a fazer isso quando eu descobri que eu detestava meu emprego. E futebol. Metrô lotado. Fila de banco. Taxas. Políticos"conta o comediante inglês (e ainda designer gráfico) Joe Wilkinson, 35 anos. Há dois anos e meio fazendo comédia, revela porque é apaixonado pelo que faz. "A melhor coisa sobre ser comediante é poder tirar sarro e brincar com as coisas que nós detestamos (e o público tambem), sem se preocupar em ser politicamente incorreto. Sem falar que é uma forma de evitar o stress".
Se para Joe a comédia ainda não alcançou o profissionalismo, Faulkner uniu diversão e trabalho. Apesar do diploma americano em artes cênicas, afirma que não é preciso muito para se dar bem nesse ramo. E acredite se quiser, nem precisa ser tão engraçado assim. "Eu sou um pouco tímido, mas no palco me transformo. Minha família acha que ultrapasso a linha do imaginário", revela.
Há 30 anos sobrevivendo de comédia, o hobby virou negócio sério. Dono de um famoso comedy café no coração de Londres, ele embarca para a Irlanda no próximo mês para uma curta turnê. Apesar do sucesso ele afirma que nem tudo são risos nessa profissão. "O começo foi um desastre. E é assim para todos os iniciantes". Ganhei £ 25 na minha primeira noite. Isso por que o gerente do café era meu amigo".
"O pior da comédia são os
comediantes chatos"
E se a piada não colar? "Um dia estava no palco e ficamos sem eletricidade por 20 minutos. Não podia parar o show. Comecei a contar histórias aterrorizantes. No final, o público queria ir embora e eu estava mais aterrorizado que eles. Não tem muito para se fazer quando a piada não agrada", declara Joe. "Ótimo, estou impressionado. Vocês entenderam bem a brincadeira. Ninguém poderia rir. A piada era para mim mesmo". Esse é o caminho que Kaulkner escolheu para tentar salvar uma não tão bem sucedida apresentação.
Eles não têm muito com o que se preocupar. A fórmula geralmente agrada. "Sim, eu adorei o show. Gostaria ter mais tempo para ver comédias. O que mais gosto são os apresentadores. Geralmente são mais divertidos que os comediantes. Eles sempre tentam seguir um script, que nem sempre funciona. Mas o divertido é que o humor é fácil de entender, o que transforma o show num ótimo programa", comenta o profissional de efeitos especiais, Tristan Versluis, 24 anos.
Bem, talvez, você não ache tão fácil entender as piadas inglesas, mas don't worry. Vá na onda da platéia, e se a gargalha for geral, abra aquele sorissao por que a piada foi das boas!
Serviço : Para descobrir o que está rolando em stand up comedies, dê uma olhada na revista Time Out, que traz a programação cultural da semana e uma seção especial sobre comédia. www.timeout.com. / www. comedycafe.co.uk