Trabalho
Vida Sem Patrao!
Cansado de trabalhar para os outros? Com um pouco de paciência para enfrentar a burocracia e uma boa idéia na cabeça, o sonho de ter uma empresa no Reino Unido pode estar ao seu alcance.
O desejo de abrir um negócio próprio pode parecer inalcançável, ainda mais em terras estrangeiras. No entanto, os requisitos básicos para a abertura de uma empresa no Reino Unido são razoavelmente simples e a vontade de ter uma empresa pode se tornar realidade para os que possuem um espírito empreendedor e bastante força de vontade.
Só para começar, é bom saber que brasileiros podem montar negócios no Reino Unido ou abrir o que eles chamam por aqui de "limited company”, já que não há nenhuma restrição quanto a nacionalidade. Mas é necessário que pelo menos duas pessoas estejam envolvidas no processo de abertura já que toda empresa deve ter no mínimo um diretor e um secretário. O diretor geralmente exerce funções gerenciais na empresa e o secretário, principalmente em pequenas empresas, não precisa ter responsabilidades específicas e qualquer pessoa pode qualificar para a função. Não há restrições de idade, apesar de que o Companies House, orgão que regulariza o funcionamento de empresas e no qual é obrigatório registrá-las, aconselha que o diretor da empresa não tenha menos do que 16 anos.
O outro requisito para a abertura de uma empresa é emitir pelo menos uma ação no valor de uma libra, apesar de que faz mas sentido ter um valor mais alto em ações, como por exemplo, umas cem libras, quantia mais razoável caso venha a ser dividida entre os sócios. Também é preciso providenciar um endereço para a sua empresa e uma conta bancária empresarial. Além disso, é necessário que se crie um nome para empresa. Mas cuidado! O fato de registrar o nome da sua empresa com o Companies House não impede que ele seja usado por outras empresas. Para evitar que isso aconteça, deve-se procurar o Patent Office, que assegura a exclusividade de uma marca registrada.
De acordo com Alistair Spooner, consultor com mais de seis anos de experiência na área de abertura de empresas no Reino Unido, um dos grandes benefícios de abrir a própria empresa são as vantagens fiscais: “As primeiras dez mil libras que se faz por ano não precisam pagar imposto. E o Reino Unido é um dos países com um dos menores tributos fiscais, que ficam em torno de 30%, mas que são aplicados somente sobre o lucro, depois de terem sido descontados todos os gastos da empresa”, ressalta ele.
Um outro benefício é que, no Reino Unido, bens pessoais jamais podem ser confiscados para pagamento de dívidas das empresas. “Se a sua companhia deve dinheiro, isso não quer dizer que você pessoalmente deve dinheiro. A empresa existe como um entidade completamente separada da pessoa que a comanda. Se você tiver bens, como uma casa ou carro, eles estão protegidos, desde que você não tenha cometido fraude ou agido de forma negligente”, acrescenta Alistair.
Porém, é preciso ser cuidadoso com a contabilidade da empresa e prestar bastante atenção ao preenchimento de formulários, que seguem padrões bem rígidos.“Eu sugiro que pessoas novas no país procurem um contador ou alguém com experiência para ajudá-los a preencher os formulários de “annual return”, principalmente no primeiro ano. Mas de forma geral, não há necessidade de ter um contador para ajudá-lo com a sua empresa, principalmente se for uma empresa pequena e simples”, menciona Alistair.
Ele também sugere cautela aos futuros empresários: “Montar um negócio pode ser um passo importante em transformar suas idéias em realidade e ajudá-lo a atingir seus objetivos profissionais, mas há muitas responsabilidades envolvidas. Se você perder prazos, há multas e punições severas. É preciso saber de todas as responsabilidades envolvidas antes de decidir pela abertura de uma empresa”, diz ele.
Além disso, é essencial ter certeza de que realmente se quer montar uma empresa, já que há outras opções como, por exemplo, trabalhar por conta própria ou ser “self-employed”. Outro escolha é formar uma “limited liability partnership”, o que estaria no meio do caminho entre ser “self-employed” e ter uma “limited company”. “Se duas ou mais pessoas estão planejando oferecer algum tipo de serviço às vezes é mais simples ter uma limited liability partnership do que uma limited company”, declara Alistair.
Para Carlos de Souza, sócio há cerca de seis meses do restaurante brasileiro a quilo World Market Restaurant, a experiência de ter seu próprio negócio é graticante, mas ele ressalta que o trabalho é duro. “Eu pego no pesado, eu entro na cozinha, eu faço compras, eu corro atrás. Tem outras pessoas que não correm e só querem usar o nome de patrão. O dono tem que estar com a mão na massa. Nenhum empresário trabalha pouco”, diz ele. O mineiro, que começou a vida em Londres lavando pratos, também salienta que não vale a pena usar o jeitinho brasileiro nos negócios porque aqui isso não funciona. “Em algum momento, vão aparecer para checar se você está pagando imposto, se seus funcionários estão todos legais” diz ele.
De acordo com Carlos, que ainda trabalha em um pub à noite como head chef, o retorno financeiro é lento e a margem de lucro não é a esperada logo nos primeiros meses de um negócio. “A pessoa que vai abrir alguma coisa deve gostar do que faz e não pode abrir algo só para fazer dinheiro. Se você gostar da sua atividade, o pouco que você faz vai fazê-lo feliz. Caso contrário, você vai ficar insatisfeito”, conclui o comerciante que pretende expandir seus negócios e montar um lugar para vender pizzas.
Mais informações :
Companies House: http://www.companieshouse.gov.uk
Patent Office: http://www.patent.gov.u