Trabalho
Franko Figueiredo
Diretor Artístico do Stonecrabs
Por Gabriela Boeing
Franko Figueiredo veio morar em Londres há quinze anos por sugestão de uma amiga. Baiano nascido em Jacobina, Franko formou-se em Administração mas foi no Teatro que encontrou sua vocação. Ex-integrante da Cia. Gatos Noir de Salvador que, ao lado da Cia. Baiana de Patifaria, popularizou o teatro besteirol da Bahia, chegou à Inglaterra em 1990 para trabalhar como estagiário no Gate Theatre. Depois de oito anos rodando por várias companhias baseadas em Londres, onde trabalhou como assistente, ator, dirigiu e produziu, Franco fundou o Stonecrabs. Atualmente, a companhia se prepara para o desafio de encenar um texto de Nelson Rodrigues pela primeira vez em inglês: Valsa No 6, traduzida por Jofre Rodrigues, filho do dramaturgo.
"O Stonecrabs começou quando eu e a Tereza Araújo montamos o espetáculo Stone Crabs (o nome do grupo é junto, mas da peça separado) desenvolvido a partir de oficinas com vítimas de violência doméstica. Cada espetáculo que produzimos fazemos de uma maneira diferente _ o Valsa será encenado por estudantes de teatro _ mas sempre tentamos ter um lado social e educacional."
"Quando cheguei a Londres foi tudo muito difícil. Como estagiário do Gate Theatre, ganhava apenas £50 por semana, o que mal dava para comer. Depois que fui me ajeitando, fui estudar para aperfeiçar meu inglês e acabei indo fazer um curso de Linguística. Comecei a trabalhar como intérprete e tradutor para me sustentar. Só em 98 quando fiz um trabalho de treinamento usando o teatro para o Royal Mail comecei a ganhar dinheiro de verdade."
"Acho que vai ser muito interessante montar um texto do Nelson Rodrigues por aqui. A nossa idéia inicial era montar O Anjo Negro, mas decidimos que seria muito impactante. Então vamos começar com Valsa No6."
"No grupo somos uma mistura de nacionalidades: brasileiros, franceses, ingleses, belgas... Ainda há muito preconceito, infelizmente, com a questão do sotaque no palco. Tem muito crítico que acha que para encenar em inglês, tem que ter um sotaque perfeito. Mas nós não somos ingleses e eu não quero que ninguém perca o sotaque no palco. Por que não ter sotaque? Ainda mais em uma cidade como Londres, acho uma besteira."
"Gosto de misturar elementos da cultura brasileira aos espetáculos. Em Arlechinno, servidor de dois patrões, uma Comedia Dell'Arte, os atores tiveram que aprender a dançar frevo e a cantar em português. O Stonecrabs não é uma companhia de teatro tradicional, então não vamos nunca montar um texto de maneira tradicional."
"Fiquei impressionado como Josephina, The Singer (último espetáculo montado pelo Stonecrabs) chamou a atenção dos adolescentes. Montamos a peça em um teatro em uma região que não conhecíamos e quando vimos, a platéia era só de adolescentes, alguns voltando para ver pela segunda, terceira vez, meninas se vestindo como Josephina. Por causa disso, vamos voltar com o espetáculo em dezembro, montando para escolas secundárias."
"Ainda é muito difícil conseguir apoio e patrocínio para o grupo. No momento, somos apenas cinco membros permanentes e trabalhamos com voluntários e estudantes de teatro em diferentes áreas dependendo do que estamos montando no momento."
Valsa no 6, de Nelson Rodrigues, estréia no dia 30 de junho, no Greenwich Playhouse.
Franko estará participando, no dia 23 de junho, de uma mesa de debates sobre atividades culturais no Rio de Janeiro, "City of God/City of War", no Theatre Museum, ao lado de Paul Heritage e MV Bill. No evento, Franko vai ler trechos de A Valsa, Anjo Negro e Toda Nudez Será Castigada.